Roça de Cima

Por volta de 1860, tem-se informações orais sobre um candomblé situado na estrada que vai para Belem, chamado Roça de Cima, liderado por Ludovina Pessoa de Ogum e Tio Xareme de Azansú. Lá foi assentado, ao pé da jaqueira, o dono do terreiro, o Vodun Azansú Azongoroji, fato confirmado no jornal Alabama, em várias notícias publicadas entre 1866 e 1869.

Ludovina era africana, nascida em Mahi por volta de 1854, iniciada para o Vodun Age (Amã Egebemiló). Mulher de forte personalidade, mantinha negócios, viajava periodicamente para África e mantinha estreitas relações com o Bogum, em Salvador. Iniciou e fez obrigações, nessa roça, para mulheres que, mais tarde, iriam tornar-se grandes mães do Jeje, como Maria Ogorensi Ahunsi Misimi (Maria Luiza Gonzaga de Souza - 1820-1923) e Sinhá Abale (Maria Epifania Dionísia do Sacramento - 1860-1950), além de Mãe Hunyo (Maria Valentina dos Anjos - 1877-1975), Gaiaku Emiliana (Maria Emiliana da Piedade - 1854-1946) e Kposusi Romaninha (Maria Romana Moreira - 1867-1956), todas três do Bogum.

A fama de Ludovina Pessoa era grande e ela tinha apoio de pessoas de destaque da elite de cor cachoeirense, em particular de Zé de Brechó, líder de associações e irmandades, profundo conhecedor da tradição Jeje e que, como dignatário do candomblé, chegou a dirigir o terreiro, após o falecimento de Tio Xareme e Ludovina, acabando por comprar a Roça de Cima, em 1882. Com a morte de Zé de Brechó, em 16 de abril de 1902, o candomblé da Roça de Cima foi extinto.

É comum o povo de candomblé, quando passa pela Fazenda Altamira (antigo Sítio Xarem) e cruza com uma frondosa e antiga jaqueira, saudar "trocando língua" e, por vezes, batendo a cabeça na própria árvore.

A Fazenda Altamira foi vendida várias vezes, passando por vários donos. Por coincidencia, ou não, todos os donos que na época tinham boa situação financeira, acabavam perdendo tudo que possuiam, terminando na miséria.

Fonte:
Awô: o Mistério dos Orixás, por Gisele Omindarewá Cossard
Gaiaku Luiza e a Trajetória do Jeje-Mahi na Bahia, por Marcos Carvalho